sábado, 22 de novembro de 2008

SEMANA DO MEDO DA EXCLUSÃO

No dia 20 de novembro foi comemorado o dia da consciência negra. Mas se é apenas um dia, por que fazer eventos durante a semana inteira? Para alguns pode ser motivo de alegria para outros, apenas uma semana normal. É de se pensar que a semana dedicada aos negros tenha a presença de brancos. Até pouco tempo atrás, isso seria uma afronta aos movimentos étnicos. Quem já viu um branco invadindo reunião de negro? Desde a época dos escravos o coletivo de negros é o quilombo, e os brancos não eram bem vindos naquela sociedade quase maçônica.
Vamos esquecer o passado e chegar aos dias atuais. Começarei pelos novos quilombos: as favelas. Numa visão geral os negros são os verdadeiros moradores das favelas. Ali encontraremos grupos de guerreiros combatentes, sociedades anônimas, crianças, bandoleiros... Todos procuram um meio de se destacarem. É uma terra sem lei. Os quilombos até que eram mais organizados. Aí aqui estou eu escrevendo sobre quilombo de novo, por favor, quando vocês virem a palavra quilombo neste texto vão ver fotos no orkut.
Visitei dia desses uma favela, passei receoso. Tive medo de mexerem comigo. Afinal sou um branco. Entenda branco como pessoa não favelizada. O que estava eu, fazendo naquele lugar? Não sei. Acho que fui procurar o que fazer. Mas com tantos parques na cidade, shoppings, boates, o que diabos fui fazer ali? Na verdade é inútil fazer certas perguntas que já têm resposta. É claro que fui ali para comprar drogas e trocar idéias com os manos. Bom mas eu não uso drogas e nem bebo e muito menos conheço pessoas da favela. Isso não importa, sou um branco dentro da favela, então só posso ter ido ali para isso.
De repente passam por mim carros que fazem barulhos. Polícia. Desculpem caros leitores, mas terei que intervir e comentar algo interessante que ocorria nos quilombos. Os quilombolas eram perseguidos pelos capitães do mato que usavam da força e da autoridade que tinham. Bom naquele dia eu pude ver no lugar de chicotes pistolas automáticas. É verdade que não vi ninguém sendo molestado. Eita, falei besteira, era para eu ter dito que todos os negros que estavam no caminho dos polícias foram molestados. Mas, minha mãe disse para eu não mentir.
Vixe vocês já devem ter mudado de texto, porque até agora não falei nada da semana da consciência negra. Bom na verdade eu não tenho posição sobre essas coisas que os negros promovem. Sou formado numa sociedade de brancos, tenho medo de favelas, tenho medo de negros numa bicicleta, não gosto muito de ônibus, não ando mais de celular nem jóias, não quero dar esse prazer aos negros.
Mas que pensamento mais feio. Não posso dizer isso num texto dedicado aos negros. Afinal essa foi a semana deles. Em semana de aniversário o aniversariante tem que ser tratado como rei, depois pode meter o pau.
já sabia decorado os textos que foram ditos pelos brancos nessas palestras que os negros promoveram. Achei (ou acho?) lindo as faculdades, ONGs instituições e movimentos todos unidos por uma causa. É que nem doação natalina, ao invés de as pessoas ajudarem o ano todo, só ficam ‘solidárias’ nesta época. Hipocrisia? Não. Afinal não fomos educados para ajudar e sim para querer mais e mais.
Resumo o que os negros devem fazer perante aos brancos hipócritas nesse trecho da música de rap da banda Tribo da Periferia (O sonho, álbum Tudo Nosso, faixa 11):

“É preciso fingir, quem é que não fingi nesse mundo, quem? É preciso ser disposto, é preciso dizer que não está com fome, dizer que não está com dor de dente, dizer que não está com medo, senão não dá. Nenhum médico jamais me disse que a fome e a pobreza pode levar ao distúrbio mental, mas quem não come fica nervoso, ver seu parentes sem comer pode levar à loucura. Um desgosto pode levar à loucura. Uma morte na família. O abandono do grande amor. A gente até precisa fingir que é louco, sendo louco. Fingir que é poeta, sendo poeta.”

Desculpem-me os brancos e os negros. Eu nunca consigo colocar no papel o que me mandam. Não posso ficar calado. Mas já que não sei a quem reclamar, deixo minhas palavras para quem for ler tirar conclusões.

Thiago Gouveia, coordenador de comunicação CUFA PE
correção textual: Rísia Lima - Coordenadora de Comunicação da Cufa